NOVOS TEMPOS
Por Sérgio Carvalho
As primeiras palavras que o Papa Leão XIV dirigiu à Igreja e à humanidade foram: «A paz esteja com todos vós! (…) Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz que desarma, que é humilde e perseverante. Que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente. (…) Deus nos ama, Deus vos ama a todos, e o mal não prevalecerá! (…) Ajudai-nos também vós e, depois, ajudai-vos uns aos outros a construir pontes, com o diálogo, o encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo sempre em paz.»
O Papa Leão XIV mostrou assim que vai ser o rosto e a voz da maior rede diplomática do mundo, pois a Santa Sé, que está sediada na Cidade Estado do Vaticano, mantém relações diplomáticas com a maioria dos países do mundo. A Santa Sé é diferente do Estado da Cidade do Vaticano: o primeiro é a entidade diplomática e religiosa, reconhecida internacionalmente; o segundo é o território soberano. A Santa Sé também tem status de observador permanente na ONU, como uma entidade não-membro.
Atualmente, a Santa Sé mantém relações diplomáticas plenas com 184 Estados soberanos (181 dos 193 membros das Nações Unidas), além de relações com a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta. Esses dados foram atualizados em janeiro de 2025, por ocasião da tradicional audiência do Papa com o corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé.
Existem alguns países com os quais não mantém relações diplomáticas plenas, devido à perseguição política ou religiosa, como a China (República Popular) onde há apenas um acordo provisório sobre nomeação de bispos, mas sem embaixada plena, conseguido do pontificado do Papa Francisco. E os casos do Afeganistão, da Coreia do Norte, das Maldivas e da Somália. Com o Brunei existe algum contato, mas não relações diplomáticas plenas e com a Arábia Saudita há diálogo inter-religioso, mas sem embaixada.
A Santa Sé reconhece ainda o Estado da Palestina, que é observador na ONU; a República da China (Taiwan); e as Ilhas Cook, em livre associação com a Nova Zelândia. Além disso, mantém relações com organizações internacionais com a Liga dos Estados Árabes; a Organização Internacional para as Migrações; e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados além da União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta.
Desde o primeiro momento, o Sumo Pontífice tem nomeado especificamente a guerra da Ucrânia, do Myanmar, da Terra Santa e o Sudão. Temos assistido a pequenos passos, mas dados na direção certa desde a sua eleição em 8 de maio: a Índia e o Paquistão cessaram as hostilidades; a Rússia decretou um cessar-fogo de três dias e enviou delegações à Turquia para negociações com a Ucrânia, tendo alcançado a troca de mil prisioneiros entre os beligerantes; e o presidente americano que propõe o Vaticano como o mediador e o palco para as negociações de paz definitivas, após encontros com o presidente da Ucrânia e o vice-presidente dos Estados Unidos da América. Depois do apelo do Papa para a urgência da situação de Gaza, a Europa parece ter acordado para a questão e iniciado os esforços para forçar Israel a deixar entrar ajuda humanitária e a conter a invasão.
Que a voz de Leão XIV seja ouvida e os seus embaixadores em todo o mundo, os núncios apostólicos, usem a sua influência para terminar todas as guerras e todos os povos viverem em paz e harmonia. Foi a diplomacia da Santa Sé que permitiu o reconhecimento da independência de Portugal, por isso, uma das primeiras visitas que os nossos chefes de estado fazem sempre, quando são eleitos, é ao Vaticano.
O Papa deixou, na sua primeira audiência das quartas-feiras, a 21 de maio, «neste mês mariano, gostaria de repetir o convite da Nossa Senhora de Fátima: «rezem o terço todos os dias pela paz». Juntamente com Maria, peçamos que os homens não se fechem a este dom de Deus e que desarmem o seu coração. O Senhor vos abençoe!»
Sérgio Carvalho, Professor e Jornalista