Esta história não devia começar assim. Said tem 48 anos, é marroquino, e a morosa e infrutífera procura por um trabalho no Porto conduziu-o a uma das 27 tendas montadas por baixo do viaduto da linha de comboio em Campanhã.
É lá que dorme há dois meses. O pouco dinheiro que trouxe para Portugal permitiu-lhe passar algumas noites num hostel, mas já não resta nada no orçamento. Bateu a 15 portas a pedir emprego. Diz que não importa o setor e que "qualquer trabalho serve". O nome é fictício. O relato não, noticia o JN.
"Não estou bem assim, mas arrendar uma casa é muito caro. Não tenho trabalho, não tenho nada. Quando encontrar emprego talvez consiga arrendar um estúdio", espera o imigrante, de barba feita e roupa lavada. Consegue almoçar, jantar e fazer a higiene diária através das respostas sociais espalhadas pela cidade, mas o problema da habitação é o muro mais difícil de derrubar. Sem morada permanente, Said não consegue legalizar-se, mas rejeita qualquer solução que implique viver numa casa sobrelotada.