Estando inicialmente previstas para discussão na reunião da próxima segunda-feira, o Executivo decidiu retirar as propostas relativas à cedência de dois imóveis, propriedade do Município, à Associação Comunidade do Bangladesh e ao Centro Cultural Islâmico do Porto para a construção das respetivas mesquitas.
O presidente da Câmara do Porto afirma que, com o aproximar do final do atual mandato autárquico, "competirá a quem venha a governar a cidade tomar as decisões que entenda por conveniente".
"Não é, pois, recomendável que, a poucos meses do ato eleitoral, se promovam iniciativas que não são consensuais", justifica Rui Moreira, sublinhando que "não deve este executivo contribuir para o exacerbamento de tensões na cidade". "E, para que fique absolutamente claro, esta questão não é consensual", acrescenta.
Certo de que o tema pode ser "fraturante", o autarca considera que "deve ser debatido na cidade e pela cidade", não devendo, por isso, "passar ao lado da campanha eleitoral que se avizinha".
"É um tema que irá testar, na realidade, o caráter ecuménico da nossa cidade e dos seus atores políticos, sociais, culturais e também religiosos", concluiu, garantindo que "o atual executivo, a que presido, não irá condicionar".
O autarca referiu, no entanto, que são várias as mesquitas que funcionam em diferentes espaços informais da cidade.
Sendo "lugares de culto sem o mínimo de condições, onde se reúnem, diariamente, crentes do Islão: portuenses que têm essa fé, outros que aqui vivem e connosco convivem há muitos anos com outros que aqui vão aportando", seria na disponibilização de "condições mais confortáveis e reservadas para a prática das suas atividades religiosas" que as propostas iam ser apresentadas.
Rui Moreira não deixa de recordar a "longa história de tolerância" da cidade do Porto, onde foi possível, durante a II Guerra Mundial, "a maior sinagoga da Península Ibérica manter as suas portas abertas, paredes-meias com a escola alemã".
Já no início do século, acrescenta, "as igrejas evangélicas instalaram-se na cidade e foram bem acolhidas". "Hoje, abundam os seus templos, que acolhem muitos imigrantes. O mesmo sucede com a comunidade hindu, com velhas tradições entre nós", refere o presidente da Câmara.
Sabendo da realidade da imigração, "que todos conhecemos", que aporta ao país e à cidade "uma enorme diversidade e uma profunda alteração sociocultural que não podemos ignorar", Rui Moreira sublinha a exigência de concretizar "políticas ativas de acolhimento e de integração".
"Porque sabemos qual foi o impacto da exclusão em outros países que nos precederam, não devemos ignorar a realidade com que estamos confrontados", conclui.
Fonte/Foto: CM Porto