Rodada no Porto com o apoio da Bolsa Neves da Filmaporto, a nova curta-metragem de João Niza Ribeiro,“Vermelhos do Asfalto” , mergulha na experiência de um imigrante ilegal, refletindo sobre as dinâmicas do capitalismo e da migração na Europa contemporânea.
A narrativa acompanha Omar, um jovem beninense que trabalha como estafeta na cidade, ao longo do dia 24 de junho de 2022 — data que ficou marcada pelo violento episódio na fronteira de Melilla, onde milhares de migrantes tentaram entrar no enclave espanhol e foram reprimidos com brutalidade pela polícia.
O evento verídico, que atravessa o filme como uma ferida aberta, serviu de ponto de partida para a criação da obra.
"Na altura, estava a participar numa rodagem na Guiné-Bissau e as imagens que vi nessa manhã contrastaram violentamente com as conversas que tive com diversas pessoas que me contaram as suas histórias, vontades e os seus desejos", recorda João Niza Ribeiro.
O realizador explica que "ver a Europa responder com violência mortal ao êxodo por si causado, tratando as pessoas como estatísticas, deu origem ao que depois se veio a tornar ‘Vermelhos do Asfalto’".
Através de várias narrativas que convergem numa só, a curta-metragem aponta o dedo às políticas migratórias da União Europeia. "Se os panfletos e a retórica propagandista apelam a um espaço de inclusão, continua-se a pagar aos estados-tampão por cada migrante que não entre em solo europeu", acrescenta o cineasta.
Ao mesmo tempo, o filme interroga a ausência. "O que significa migrar? O que significa deixar um espaço familiar, laços separados pela quilometragem dos territórios?", questiona o realizador, enfatizando que a violência migratória não se limita ao dia 24 de junho de 2022, mas que é uma realidade diária.
Tendo o Porto como cenário e personagem viva da narrativa, o filme percorre bairros como Bonfim, Campanhã e Antas, com atores não profissionais ao lado de Francisco de Oliveira, que dá vida à personagem de Omar.
Fonte/Foto: CM Porto